Qual a máquina fotográfica digital que devo
escolher ?Cada utilizador terá uma resposta
diferente a esta pergunta. Aqui apresento a minha resposta a uma pergunta próxima:
"Como escolher uma máquina fotográfica digital?" Muitos
amigos e conhecidos - e até desconhecidos - me perguntam que máquina
devem escolher. Como a resposta varia de caso para caso, deixo aqui as perguntas
e pistas de reflexão que, espero, ajudem o leitor a escolher a sua próxima
máquina tal como me ajudaram a mim: - Quanto
pensa gastar ?
- Qual a qualidade da objectiva
?
- Para que fim deseja a máquina ?
- Como
sente a ergonomia da máquina ?
- Como escolher
o sensor ?
- Qual a importância do visor ?
- Como
escolher as pilhas ?
- Sistemas de armazenamento
- Outros
pontos de interesse
A minha forma
de fotografar influencia este questionário e por isso deixo aqui algumas
pistas que creio não serem surpresa para quem conhece as minhas páginas
de fotografia: - Sou um amador de fotografia com vontade de aprender
sempre mais, tanto técnica como artisticamente.
- Prefiro as fotografias
de espaços livres mas também faço instantâneos familiares.
- Não
uso estúdio nem modelos.
- Tenho um orçamento limitado.
- Gosto
de parar para pensar as fotografias antes de disparar.
- Gosto de fazer
fotografia nocturna, especialmente em cidade.
- Gosto de macros de natureza.
- Ocasionalmente,
faço fotografia submarina (até 10 metros de profundidade).
- Estou
disposto a carregar um monopé e/ou um tripé.
- Não
faço fotografias de desportos rápidos mas fotografo pequenos animais
em movimento.
| 1. Quanto
pensa gastar ?Esta é a pergunta fundamental. Não vale a
pena preparar um caderno de especificações para o qual não
se tem orçamento tal como é um desperdício comprar uma máquina
mais cara por causa de funcionalidades que não serão utilizadas. Normalmente,
trabalha-se com rendimentos marginais decrescentes: quanto mais dinheiro o leitor
gastar, menos vantagens recolhe por unidade gasta. Por isso, é natural
que o dinheiro que admite gastar a mais seja mais bem empregue noutras rubricas,
até fotográficas: livros técnicos e artísticos, exposições,
passeios, etc.. Evite os cenários rígidos: se estabelecer
um limite, admita uma folga de 10% a 20% mas depois não vá subindo
progressivamente atrás de um extra e mais outra vantagem e já agora
aquela outra coisa :-) Pense também se quer comprar a máquina
numa loja do seu país, na Internet ou procurar comprá-la num país
terceiro onde as máquinas sejam mais baratas. Informe-se sobre as garantias,
custos e seguros de envio, facturas, formatos de carregadores e sistemas de televisão,
etc.. Em relação a Portugal, a compra via Internet pode significar
20% a 30% de redução (cf. revista Fotodigital)
mas um amigo de férias em Andorra, Macau ou Tailândia conseguirá
poupanças ainda maiores. Seja prudente, contudo, para que o barato não
lhe saia caro. Considere ainda a hipótese de comprar um equipamento
em segunda mão. Como as máquinas digitais são um equipamento
de obsolescência muito rápida, há sempre utilizadores afortunados
ansiosos por vender a sua máquina com um ou dois anos para comprar o novíssimo
modelo X. Se o leitor não fôr um fanático pela novidade pode
comprar uma máquina com dois anos por metade do preço original.
A minha primeira máquina digital foi uma Olympus C-2000Z (1999) comprada
em segunda mão. Foi uma venda relâmpago: o vendedor pôs o anúncio
na Internet às 7h30 e às 10h eu tinha comprado a máquina.
Valeu-me ter previamente preparado o caderno de especificações para
decidir num ápice. Nesta opção, a confiança
no vendedor é essencial. Hoje há sítios na Internet muito
bem organizados, com sistemas de classificação de compradores e
vendedores, mas os conhecimentos pessoais também podem superar as garantias
formais. | 2. Qual a qualidade da objectiva
?A fotografia, digital ou em filme, depende da luz que chega a uma superfície
sensível. Pobres são os resultados que se obtém quando a
lente que côa a luz até ao alvo a atenua, distorce e maltrata. Por
isso, o elemento mais importante numa máquina é a objectiva,
como lhe dirá qualquer fotógrafo veterano que investe dez vezes
mais nas objectivas do que nos corpos. Para perceber a qualidade da objectiva
há regras simples a seguir: - Pense na lente como um funil que
conduz a luz até um pequeno sensor no coração da máquina.
Quanto maior fôr o diâmetro da boca do funil, mais luz é captada
e mais informação chega ao sensor.
Se a objectiva tiver um diâmetro
mais pequeno do que outra de igual qualidade, a quantidade de luz recebida é
menor e será necessário amplificar mais os sinais no sensor para
obter uma imagem com a mesma luminosidade. Numa frase: mais é (quase
sempre) melhor. - Veja a luminosidade da objectiva ou abertura máxima,
medida pelo seu diafragama. Esta é indicada por um número começado
por 1:, F, F: ou F/. Quanto menor esse número melhor. A Olympus C-2000Z
tem um diafragma (diz-se que tem uma abertura ou que "abre a") F/2 e
F/2.8 enquanto a Canon A70 tem um diafragma F/2.8 a F/4.8. O primeiro número
corresponde à abertura em grande angular e o segundo à abertura
em teleobjectiva. A objectiva da Olympus é claramente superior à
da Canon, sobretudo em teleobjectiva.
- Observe o funcionamento mecânico
da objectiva: é protuberante em relação ao corpo ? É
lento ? É ruidoso ? O zoom é contínuo ou tem vários
passos ? Quantos ?
Além de seguir estas sugestões "faça
você mesmo", consulte revistas especializadas e sítios na Internet
para tentar conhecer os testes técnicos às objectivas, em particular
as aberrações e distorções das objectivas que só
são detectáveis numa análise profissional pormenorizada e
por vezes são responsáveis por enormes diferenças de preço
entre máquinas aparentemente semelhantes. Tente perceber se essas diferenças
se justificam no seu caso. | 3. Para que
fim deseja a máquina ?Esta pergunta poderia reescrever-se em "a
que tipo de fotógrafo e de fotografia se destina a máquina ?".
Na sequência desta pergunta surge outra: "onde e quando tenciona
transportar a máquina ?". Esta pergunta encerra o conjunto
das perguntas principais. Só pode escolher uma boa máquina quem
souber para o que se destina. E não se pode responder "para tudo".
Nenhuma máquina responde bem a todas as exigências, para isso seria
necessário comprar várias máquinas e andar com todas elas.
Se tenciona usar a máquina apenas em férias, pode optar por
um modelo mais volumoso e mais pesado, com equipamentos extra. Pelo contrário,
se se trata de uma máquina para usar todos os dias no bolso, na pasta ou
numa carteira (bolsa) de senhora, então o tamanho deverá ser o menor
possível. Neste último caso, há que obter um compromisso
entre o tamanho da lente (ver pergunta anterior) e o tamanho da máquina.
Cada marca propõe soluções que espelham estas diferenças. Pense
ainda nos seguintes exemplos: - Sente-se confiante ou assustado diante
de múltiplos modos e opções ?
No primeiro caso, recomendo
uma máquina progressiva que admita modos automáticos mas também
os ajustes manuais, enquanto no segundo recomendo uma máquina com uma latitude
de escolha menor. Os modelos amadores da Canon aproximam-se do primeiro caso
e os da HP do segundo. - Quer ajuda na escolha dos parâmetros da fotografia
? A maioria das máquinas inclui programas adaptados às situações
mais comuns: retrato, paisagem, desporto (fotografias de alvos rápidos),
contra-luz, macro, nocturno, nocturno com flash, praia e neve. Há ainda
máquinas - Nikon, por exemplo - que permitem disparar uma série
de fotografias das quais a máquina escolhe apenas a fotografia com melhor
focagem e exposição.
- Gosta de mostrar as fotografias aos
seus amigos ? Então escolha um modelo que permita apresentar as fotos em
qualquer televisão. Há muitos modelos que oferecem essa possibilidade.
Nota importante: se importar a máquina de outro país ou
a comprar na Internet assegure-se que a máquina está adaptada ao
sistema de televisão do seu país. Em Portugal e na maior parte da
Europa o sistema é PAL (B ou D, sendo que a maioria das televisões
suporta os dois) nos Estados Unidos e no Japão o sistema é NTSC,
em França e alguns países francófonos se usa SECAM e no Brasil
usa-se uma variante de PAL incompatível com a portuguesa. Há algumas
máquinas que se ligam aos dois sistemas mais comuns (PAL e NTSC). - [adenda
em 2005] Está disposto a carregar um tripé ? Um tripé ou
um monopé são auxiliares valiosos na fotografia de temas estáticos
e são necessários às fotografias em ambientes de baixa iluminação.
Para
mais informações, consulte a nota sobre tripés
e monopés. - Fotografa objectos distantes ? Então
precisará de um zoom longo. Note que um zoom longo "obriga" à
utilização de um tripé com a maioria das máquinas
abaixo dos EUR 1000 (USD 1150).
Sobre este tema veja ainda a secção
sobre estabilizadores de imagem. Dedica-se
a fotos de família e paisagens urbanas e naturais? Então um zoom
3x banal servirá. A Fuji e a Olympus oferecem várias opções
em zooms longos [actualizado em 2005: e também Canon, Minolta, Nikon, Panasonic
e Sony], enquanto todas as marcas oferecem zooms 3x com distâncias focais
típicas próximas de 35-105mm no formato máquinas fotográficas
analógicas vulgares. - Vai viajar e quer minimizar o peso a
carregar e a exposição da câmara aos furtos? Quase todas as
marcas propõem modelos muito compactos e com uma qualidade óptica
satisfatória.
Neste campo destacam-se a Pentax, Casio e a Sony, por
exemplo. - Tenciona fazer panorâmicas ? Embora seja possível
fazer panorâmicas com qualquer máquina, os resultados melhoram significativamente
quando a máquina propõe um modo de panorâmicas assistidas.
Verifique que a máquina que quer comprar oferece esta possibilidade e,
de preferência, que a rosca do tripé está centrada no eixo
óptico da lente.
- Gosta de efeitos especiais ? Por exemplo, fotografias
a preto e branco ou a sépia, fotografias desfocadas ou com as cores mais
saturadas? Há máquinas que oferecem estas opções,
embora eu prefira fazer esse processamento a posteriori, no computador.
- Quer levar a sua máquina para debaixo de água ? Há
diversas marcas que propõem caixas estanques para o efeito: Sony, Olympus,
Canon, entre outras. Há também fabricantes de equipamento estanque
que propõem soluções adaptáveis a várias câmaras.
Para
mais informação sobre fotografias submarinas, consulte as notas
dedicadas. Atendendo ao crescimento do mercado digital as diversas
marcas procuram elementos de diferenciação para satisfazerem melhor
os seus clientes, oferecendo características que ultrapassam o âmbito
fotográfico. Por exemplo: - Muitas máquinas oferecem a
possibilidade de realizar pequenos filmes, com ou sem som. Normalmente, o zoom
não funciona durante o filme nas máquinas que gravam filmes com
som; caso contrário o ruído do motor ultrapassaria o do filme.
As resoluções típicas dos filmes são 160x120, 320x240
e nas mais recentes 640x480. A duração do filme pode estar limitada
internamente pela máquina (tipicamente 30 segundos) ou pelo tamanho do
cartão de memória. - Há máquinas que incluem
leitores de MP3 para quem quiser levar a sua música preferida para todo
o lado.
- Outras há que incluem gravadores de voz, para guardar notas
e recados.
Em resumo, pense bem na finalidade a que se destina a câmara
e se quer transportá-la no quotidiano. Pense também se quer
aprender mais fotografia ou se pretende apenas tirar fotografias "automáticas".
Ao escolher uma câmara, não se baseie naquilo que sabe mas naquilo
que quer saber. Mesmo que não tenha conhecimentos sólidos de fotografia,
poderá valer a pena investir numa máquina com possibilidades de
controlo manual se se dispuser a investir parte dos seus tempos livres na aprendizagem
e aperfeiçoamento da fotografia. Reflicta ainda nas funcionalidades
extra. Há algumas que poderão valer a pena mas pense nos acréscimos
de custo. | 4. Como sente a ergonomia da
máquina ?Esta é a análise mais subjectiva de todas
mas é muito importante. Se uma máquina não se adaptar bem
ao utilizador, a qualidade e satisfação de uso degradar-se-ão,
independentemente da qualidade técnica da mesma. Há alguns
aspectos fáceis de identificar. O primeiro é o tamanho da caixa
e a posição dos botões. O segundo é o conforto das
mãos: agrada-lhe ao tacto ? Os dedos ficam em posição confortável
ou contraídos ? Preste atenção ainda à posição
do visor e do flash. Eu uso o olho esquerdo
para enquadrar a fotografia no visor - ainda não me habituei ao LCD. Como
a minha máquina é japonesa e o meu nariz é bem maior do que
o nariz médio dos japoneses, o meu nariz disputa com o polegar direito
o controlo dos botões no dorso da máquina. Para
avaliar a ergonomia o melhor é ter a máquina nas mãos: a
máquina é pesada de mais ou leve de mais? Requer o uso das duas
mãos ou basta uma ? E o leitor gosta de usar uma ou as duas mãos?
Procure observar o toque dos plásticos, a firmeza das junções
e dos parafusos. Pergunte aos seus amigos com máquinas semelhantes se tiveram
problemas e analise o desgaste das caixas das máquinas deles. Verifique
se a substituição das pilhas e cartões é funcional;
se o acesso aos menus de configuração é intuitivo e eficiente;
se a máquina é fácil de operar no escuro. Mais alguns
casos que merecem atenção: - Atrapalha-se com múltiplos
botões e prefere um botão único com menus em várias
camadas ou, pelo contrário, prefere acessos directos ao maior número
possível de funções?
A HP prefere a primeira solução
enquanto a Fujifilm adopta a segunda nos modelos mais avançados, por exemplo. - A
máquina será manuseada por uma única pessoa muito cuidadosa
ou é para andar de mão em mão ? Será usada por crianças
ou adolescentes ?
Neste caso precisará de uma máquina mais robusta.
Não pense que é indispensável uma máquina simples;
quanto mais novo é o utilizador, melhor aprende todas as funções
da máquina :-) - Faz campismo, montanhismo, escalada e outros desportos
"selvagens" ? Pense numa máquina com uma caixa especialmente
robusta e acrescente à lista de compras uma bolsa leve e bem acolchoada.
Neste campo, a Lowepro é uma referência.
- Utilizará
a máquina em ambientes poeirentos, sujeitos a humidade, corrosão,
areia, grande amplitudes térmicas e variações de humidade
relativa ou outros factores de risco ?
A Kodak tem uma linha de câmaras
"robustas" para operar com luvas e a Olympus tem câmaras resistentes
a salpicos. Pode também comprar estojos de protecção para
operar a máquina em ambientes hostis ou subaquáticos, por exemplo
da Ewa-marine. - Pensa comprar acessórios ? Lentes, Flashes ? Veja
como se ligam e verifique, por exemplo, se a lente de ampliação
montada sobre a objectiva não tapa o flash ou o visor óptico da
máquina.
- Atrapalha-se com os cabos e software de configuração
e transferência de fotografias? Há marcas que disponbilizam bases
de ligação (em inglês craddle ou docking stations)
para facilitar e automatizar estas tarefas, inclusivé a impressão.
A HP e a Fujifilm adoptaram esta solução.
| 5.
Como escolher um sensor ?A maioria das pessoas com quem converso sobre
máquinas digitais começa por aqui e talvez o leitor esteja surpreendido
por só agora se falar dos sensores. Optei por esta ordem porque penso que
as outras quatro perguntas são mais importantes e que depois de pensar
nelas o leitor estará em melhores condições de reflectir
sobre o sensor. Há dois tipos de sensores: CMOS e CCD. As características
e diferenças entre eles estão fora do âmbito desta nota e
o leitor encontrará referências sobre o assunto. Para o efeito de
escolha de uma máquina digital basta saber o seguinte sobre o assunto:
- Os sensores CCD representam a maioria do mercado e a tecnologia CMOS é
mais recente.
- Numa análise comparativa, os sensores CMOS têm
um fabrico mais barato e consomem menos energia.
- Não é hoje
claro que uma tecnologia seja superior à outra. A Canon usa CMOS no topo
da gama, mas a Nikon, a Kodak ou a Olympus preferem o CCD, por exemplo.
- Todavia,
há um tipo de sensores CMOS de baixa qualidade que é usado em Webcams
e em máquinas fotográficas muito baratas (até EUR 200 ou
USD 230).
Em resumo, evite as máquinas muito baratas com CMOS
(por pouco mais dinheiro encontrará máquinas com uma qualidade muito
superior) e não se preocupe com o tipo do sensor. É também
importante o tamanho físico do sensor. Por regra, para dois sensores com
o mesmo número de pixels - que produzem imagens com a mesma resolução
- os sensores maiores proporcionam melhor qualidade, em particular no recorte
e reprodução das cores. A explicação é
simples: quando as células sensíveis estão muito próximas,
a carga de cada uma afecta também as suas vizinhas e assim "contamina"
ligeiramente a imagem. Este fenómeno designa-se em inglês "smudging". Além
disso, a maioria das máquinas inclui um filtro de "anti-aliasing"
para evitar efeitos de sub-amostragem e padrões de Moiré, que também
reduzem o recorte das fotografias. Uma excepção notável a
esta política é a Sigma SD-9 e por isso as suas imagens são
mais apreciadas em fotografias de natureza, pois devolvem melhor recorte e reprodução
de cor. Julgo que o leitor não se deve preocupar muito com este problema
no segmento amador pois a maioria dos sensores tem cerca de 1.4cm de diagonal.
Só nas máquinas para mais caras (acima de EUR 1000 ou USD 1150)
surgem os sensores maiores. A Olympus está a tentar impôr uma norma
multi-fabricante com sensores de 3.4 cm de diagonal para as máquinas de
objectivas inter-mutáveis, chamado 4/3. E com a resolução
do sensor ? Vale a pena preocupar-se ? Penso que não. Penso que
a corrida aos megapixel é uma loucura estimulada pelos fabricantes que
procuram maximizar as vendas e encurtar os ciclos de vida dos produtos. |
Proponho fazer algumas contas para o leitor perceber porquê.
As impressões em sublimação térmica ou nos laboratórios
digitais são feitas a 200 dpi (200 pontos por polegada) ou a 300 dpi nos
serviços profissionais de alta qualidade. Uma máquina de 2 Mpixel
faz fotografias de 1600x1200 pontos e com 3.2Mpixel têm-se 2048 x 1536 pontos. Para
imprimir uma fotografia de 10 x 15 cm, que corresponde a 6 x 4 in (polegadas),
seriam precisas imagens de 1200 x 800 pontos para impressões a 200 dpi
a 1800 x 1200 pixels para impressões a 300 dpi. Para fazer uma impressão
em formato A4 (30 x 21 cm, ou cerca de 12 x 8 in) seriam precisos 2400 x 1600
pontos a 200 dpi ou 3600 x 2400 pontos. Portanto, para imprimir fotografias com
a qualidade normal de "laboratório automático", 2 Mpixel
chegam para fazer cópias 10 x 15 cm e 3.2 Mpixel é suficiente -
embora um pouco menos do que o ideal - para fazer fotografias em formato 30 x
20 cm. Quantas vezes por ano imprime neste formato ou em formatos maiores ? As
máquinas com resolução igual ou superior a 4 Mpixel servem
sobretudo para que se possa reenquadrar a fotografia, aproveitando um pedaço
com dois ou três Mpixel e ainda assim obter uma boa fotografia, servem para
ampliações profissionais de grande formato e servem, sobretudo,
para animar a indústria fotográfica.
A título de testemunho, já vi fotografias minhas impressas em
jornais e revistas de papel couché com qualidade indistinguível
do resto da publicação, baseadas em imagens de 2Mpixel da minha
"velhinha" Olympus C-2000Z. Pode parecer exagero meu, mas tendo experimentado
as duas máquinas, não troco a minha C-2000Z com 2Mpixel e diafragma
F/2 a F/2.8 por uma Olympus C-40Z com 4Mpixel e diafragma de F/2.8 a F/4.8. Hoje
em dia [Maio 2003], os sensores de 3 Mpixel marcam o nível de entrada da
maioria das máquinas em torno do EUR 500 (aprox. USD 650). Se procurar
mais baixo, encontrará máquinas com características e qualidades
limitadas. O meu conselho é que escolha a máquina em função
das restantes características, desde que o sensor tenha pelo menos 3 Mpixel.
Se o leitor guiar a sua procura pela maximização da resolução,
provavelmente gastará dinheiro do qual retirará um magro benefício.
Por outro lado, pode estar confiante que uma máquina de 2 Mpixel
em segunda-mão poderá fazer as delícias de uma família
ou de um amador com uma pequena despesa. | 6.
Qual a importância do visor ?Já é difícil encontrar
um máquina sem écran para visualizar as fotografias. Porém,
há algumas diferenças nas funções dos écrans
e dos visores oculares. Este écran ou monitor é normalmente de cristais
líquidos a cores, vulgarmente designado LCD. Nas máquinas
SLR topo de gama, o écran só permite ver as imagens gravadas, sendo
necessário usar o visor ocular para tirar a fotografia. Nas demais, o écran
pode ser usado para tirar as fotgrafias e para ver depois as fotografias gravadas.
O tamanho e o contraste do écran são importantes para uma boa visualização,
mas também afectam o preço: maior contraste ou maior tamanho implicam
um aumento de preço. Aconselho o leitor a experimentar o écran antes
de comprar, sobretudo se tiver dificuldades de visão. Em condições
de forte luminosidade, o écran pode tornar-se ilegível, sendo necessário
espreitar pelo visor ocular. Para este problema foram propostas duas soluções:
a Leica e a Panasonic, por exemplo, incluem um pára-sol ou pequeno "toldo"
ou pála retráctil que cobrem o écran, reduzindo a luminosidade
difusa, enquanto a Nikon, Pentax, entre outras, optaram por incluir um eixo mecânico
que permite rodar o écran para um ângulo mais conveniente. Este
segundo sistema oferece vantagens adicionais: permite tirar fotografias "por
cima da multidão", auto-retratos, instantâneos ao nível
da cintura, entre muitas outras ideias. Embora a maioria dos utilizadores
de máquinas digitais prefira o écran para tirar e ver fotografias,
quase todas as máquinas trazem um visor ocular. Este pode ser óptico
ou electrónico, sendo neste caso comummente designado por Electronic View
Finder (EVF). Eu continuo a preferir, e reputo indispensável, um
visor óptico, pelas razões seguintes, listada por ordem decrescente
de importância: - Permite poupanças muito significativas
de energia
- É superior aos EVF em caso de luminosidade deficiente
e fotografia nocturna.
- É mais rápido durante os movimentos
bruscos da câmara.
- É mais confortável e menos cansativo
para os olhos.
Tem também alguns inconvenientes por comparação
com os EVF: - Existe um erro de paralaxe entre a imagem vista no visor
óptico e no écran.
- Por vezes, o visor óptico não
cobre todo o campo da objectiva, chegando a mostrar apenas 85% da área
efectivamente fotografada.
- Dificulta a apresentação de sinais
auxiliares de informação.
Em resumo, escolha uma máquina
com um bom écran para ver as fotografias. Em relação ao visor
ocular, a escolha da tecnologia é mais subjectiva, mas eu continuo a preferir
o visor óptico, mau grado os seus inconvenientes, pois estes podem ser
ultrapassados olhando para o LCD. Se o LCD e o visor ocular se baseiam no mesmo
princípio, não há complementaridade para ultrapassarem as
suas limitações específicas. | 7.
Como escolher as pilhas ?O consumo voraz de energia das máquinas
fotográficas digitais foi causa de um rápido desenvolvimentoe da
indústria de acumuladores, que teve como consequência um maior desenvolvimento
do mercado da fotografia digital. Hoje, há marcas que optam por acumuladores
proprietários de alto rendimento, normalmente de iões de lítio
(Li-ion), enquanto outras - sobretudo nos segmentos mais baixos - preferem as
pilhas padrão (AA ou AAA). Há ainda soluções intermédias
onde os acumuladores proprietários são concebidos de forma a poderem
ser substituídos por pilhas padrão. Embora as pilhas tradicionais
tenham menos rendimento, eu continuo a preferi-las porque são mais baratas
e podem ser substituídas numa emergência por pilhas alcalinas que
se compram em qualquer quiosque ou loja para turistas. Hoje há pilhas AA
com 2100mAh que se batem quase de igual com os acumuladores proprietários. Um
dos estímulo para o uso de pilhas proprietárias é o mercado
das máquinas ultra-compactas. Mas até nesse nicho é possível
fazer milagres como demonstra a Pentax com as séries S4i (pilhas proprietárias)
e S40 (pilhas AA), por exemplo. Um dos maiores inconvenientes dos acumuladore
proprietários é serem carregados dentro das próprias máquinas.
Quando se tem mais do que um acumulador, é necessário comprar um
carregador adicional ou ficar com a máquina "presa à parede"
enquanto os dois acumuladores não carregam. O leitor não tenha dúvidas:
se não tiver uma fonte de energia de reserva vai arrepedender-se. E mais
cedo do que julga. Se usar pilhas padrão que são mais baratas,
é mais fácil comprar conjuntos de reserva. Sendo compatíveis
com vários dispositivos podem ser trocadas com vários aparelhos,
é mais fácil comprar carregadores para elas e não se perde
todo o investimento quando se troca de máquina... | 8.
Sistemas de armazenamentoDeixei quase para o fim o elemento que mais me
aborrece na fotografia digital: a multiplicidade de sistemas de armazenamento.
Se não contar com as diskettes de 1.44Mb que foram propostas pela Sony
na série Mavica, conheci os seguintes sistemas: - Cartões
Smartmedia
- Propostos pela Fuji e pela Olympus, têm capacidades até
128Mb. Não têm controlador integrado. São baratos e relativamente
lentos. Estão obsoletos (embora ainda existam abundantemente) e foram substituídos
pelos cartões xD.
- Cartões CompactFlash tipo I
- Propostos
pela SanDisk para os computadores de bolso, depressa se generalizaram como um
dos formatos mais populares dada a sua capacidade e rapidez de escrita. Actualmente
chegam aos 2GB mas a melhor relação qualidade preço alcança-se
entre os 256Mb e os 512Mb. São um pouco maiores do que os Smartmedia e
incluem um controlador. Têm um controlador integrado e são vistos
pelos PCs como um disco rígido normal.
- IBM MicroDrive
- A
MicroDrive é uma notável invenção da IBM que desenvolveu
um verdadeiro disco rígido do tamanho de uma moeda, com o formato de um
cartão Compact Flash, de tipo II, um pouco mais espesso do que os de tipo
I. Durante anos foi o suporte de eleição dos fotógrafos digitais
profissionais.
A capacidade atinge hoje os 4 Gb mas o desenvolvimento do dispositivo
perdeu o interesse económico dada a existência de cartões
CompactFlash de tamanho comparável e com custos muito inferiores. - Cartões
Secure Digital/Multimedia Card
- Preferidos pela HP e pela Pentax, entre
outros, este formato oferece vantagens na inclusão de assinaturas digitais
nas fotografias e consequente protecção dos direitos de autor. A
dimensão é um pouco inferior ao SmartMedia e as capacidades estão
próximas dos CompactFlash.
- Memory Stick e Memory Stick Pro
- Um
formato proprietário da Sony, que recentemente se abriu a outros fabricantes.
Semelhante aos anteriores. O novo formato Pro oferece mais capacidade e sobretudo
maior velocidade de escrita e leitura.
- Cartões xD
- Proposto
pela FujiFilm e Olympus para substituir os cartões SmartMedia, com os quais
mantém alguma compatibilidade. Actualmente são o formato mais pequeno
e mais leve. A capacidade chega aos 512Mb e promete igualar os CompactFlash.
- Discos
CD-R e CD-RW
- Esta é a solução mais barata e eficiente
de guardar as fotografias: gravá-las directamente num CD-R ou CD-RW e arquivar
os discos. O suporte é barato e tem grande capacidade. O principal problema
é o tamanho dos discos que dá origem a câmaras maiores e o
consumo de energia para fazer rodar e queimar os discos.
Há
algumas máquinas que aceitam mais de um formato de cartões: Olympus
e Pentax, por exemplo. Além de todos estes sistemas as máquinas
também têm memória interna. Algumas só têm memória
interna. Aconselho o leitor a evitá-las pela reduzida autonomia que proporcionam. A
memória interna é determinante para disparar sequências rápidas
de fotografias, pois a velocidade de escrita no sistema de armazenamento pode
ser significativamente inferior à velocidade de aquisição
de dados. Nestes casos, a memória interna serve de armazém temporário
e a velocidade de disparo em sequência é determinada pela dimensão
deste armazém. Os fabricantes são omissos sobre o tamanho
e rapidez da memória interna e por isso é necessário recorrer
a sítios de testes ou revistas independentes para poder aferir e comparar
estes parâmetros. Não tenho opinião sobre quais são
os melhores sistemas de armazenamento. Parece-me que são praticamente equivalentes.
O CompactFlash é muito popular e comparativamente barato, e por isso deve
ter uma vida longa. De resto, o sistema de armazenamento não deve ser determinante
na escolha, excepto nos casos em que já tenha outros equipamentos com cartões
e queira garantir a compatibilidade. Para determinar a capacidade óptima
do cartão, eu procuro obter o mais baixo custo por MByte. Aconselho o leitor
a não escolher cartões de capacidade superior, excepto nos casos
em que a substituição do cartão seja melindrosa (fotos submarinas,
por exemplo). Se o fizer, paga um preço por MByte mais elevado e em caso
de avaria ou extravio do cartão, perde muitas fotografias e muito dinheiro.
Se só tiver um cartão, perde também a possibilidade de continuar
a fotografar. | 9. Outros pontos de interesseOmiti
propositadamente um conjunto de características importantes mas que são
de difícil observação e avaliação pelo utilizador
leigo e que estão ligadas à electrónica das máquinas.
[Setembro 2003] A pedido de alguns leitores, acrescentei umas
notas ínfimas sobre cada um dos temas: - Velocidade de obturação
- Este
é um parâmetro que varia relativamente pouco nos vários modelos
de máquinas. As maiores diferenças estão nas exposições
longas que são usadas por uma minoria (normalmente esclarecida) de utilizadores.
Os tempos de obturação entre 1/1000s e 1s são os mais frequentes.
Deve evitar uma faixa mais estreita do que esta. As máquinas de maior
qualidade oferecem obturadores mais rápidos (até 1/4000s) mas creio
que têm escassa utilização. Os tempos de exposição
mais longos (acima de 1 segundo, ditas velocidades lentas) são importantes
para fotografias nocturnas, de arquitectura ou de efeitos especiais. Considere
um bom tripé para estas aplicações. - Sensibilidade
ISO
- A maioria das máquinas simula vários graus de sensibilidade,
correspondentes à sensibilidade dos filmes analógicos. Neste caso,
a maior sensibilidade corresponde a maior ganho no sensor (e por isso mais ruído).
Embora as sensibilidades venham definidas em equivalentes ISO, há debates
sobre esta equivalência, nomeadamente, no DPReview sobre
algumas Canon que terão uma sensibilidade a ISO 50 semelhante à
de outras máquinas a ISO 100.
Em algumas máquinas há
regulações manuais e filtros anti-ruído mas a discussão
destes pormenores ultrapassa o âmbito desta nota. - Equilíbrio
de brancos
- Esta é uma das principais vantagens da fotografia digital
que é razoavelmente resolvida pela generalidade das máquinas. Trata-se
de identificar uma dominante cromática nas fotografias, resolvendo o problema
mais comum das fotografias tiradas dentro de casa que é a dominante amarela
devida à luz de incandescência.
Na maior parte das fotografias
o ajuste automático anula as dominantes cromáticas, mas em certos
casos é vantajoso especificar qual o tipo de luz dominante. Nestes casos,
além de regulação para luz do sol, sombra, incandescente
e fluorescente, há máquinas com regulações manuais
ou com a possibilidade de identificar um elemento branco. - Auto-focus
- Este
tema é mais pertinente, até porque há diferenças sensíveis
entre as várias marcas e máquinas. Sugiro ao leitor que recorra
a análises técnicas na Net ou na Imprensa para conhecer as máquinas
que pondera adquirir.
Algumas máquinas incluem uma luz de assistência
ao auto-focus. É uma vantagem importante, quando a luz funciona bem (consulte
os testes). Certifique-se, porém, de que pode desligá-la, caso contrário
não poderá fotografar de surpresa. - Flashes
- São
um complemento quase indispensável da fotografia e variam muito entre máquinas
da mesma gama. Alguns têm bom alcance e são equilibrados enquanto
outros queimam as fotografias.
Se faz macrofotografia, tenha particular atenção
aos flashes pois muitos deles são inúteis a curta distância.
O alcance típico dos flashes nas máquinas compactas não ultrapassa
os 5 metros. Para maiores distâncias ou para grandes angulares é
necessário um flash externo. Verifique se a máquina que pensa comprar
oferece essa opção. Note ainda que o uso do flash interno consome
bastante energia da bateria e aumenta o tempo de espera entre fotografias. - Acessórios
- A
capacidade de expansão de uma máquina é importante para alguns
utilizadores. Se fôr o seu caso, o leitor deve informar-se da possibilidade
de uso e do custo dos filtros e lentes conversoras e/ou de flashes externos, uso
de controlos remotos (oferecido pela Olympus desde 1999, por exemplo), caixas
subaquáticas, etc..
[Janeiro 2005] O tempo
passa torna-se necessário actualizar as notas, acrescentando um tema:
- Estabilizadores de imagem
- Já há várias marcas
- Canon, Minolta, Panasonic, entre outras - que oferecem estabilizadores ópticos
de imagem para máquinas de zooms longos (6x, 10x, 12x), estendendo as possibilidades
de utilização destas lentes sem tripé. O desempenho destes
sistemas é variável, mas todos melhoram a gama de utilização
das lentes em pelo menos "1 a 2 stops", isto é permitem duplicar
(1 stop) ou quadriplicar (2 stops) o tempo de exposição máximo
que ainda garante uma imagem nítida. Na prática, isto permite usar
o zoom com metade ou um quarto da luz, para o mesmo nível de sensibilidade
ISO.
Estes sistemas eram característicos das objectivas profissionais,
mas surgem agora integradas em algumas compactas com um preço de cerca
de EUR 500 (USD 600). | 10. ConclusõesPara
comprar bem uma máquina digital julgo que o leitor deve responder às
seguintes sete perguntas, por ordem decrescente de relevância: - Quanto
penso gastar ?
- Qual a qualidade da objectiva ?
- Para que fim quero
a máquina ?
- Como sinto a ergonomia ?
- Que sensor vou escolher
?
- Qual a importância do visor ?
- Que pilhas devo escolher
?
Se o leitor não pretender embrenhar-se na arte da fotografia,
será mais razoável trocar a ordem das segunda e terceira perguntas,
passando a ser mais importante a finalidade da máquina do que a qualidade
da lente. Em relação ao sensor, e se o orçamento do
leitor o permitir, aconselho-o a partir de uma base de 3 Mpixel. Acima disto,
a resolução não deve ser o motor da escolha mas um benefício
adicional associado à máquina com as características desejadas.
No mercado de segunda-mão pode obter-se uma máquina de 2 Mpixel
com boas características por muito bom preço. Escolha com
cuidado o LCD, o visor ocular e a ergonomia. É através deles que
cria as fotografias; se não forem funcionais atravessar-se-ão todos
os dias no seu caminho. Qualquer que seja a sua escolha de pilhas e cartões,
traga sempre uma reserva no bolso. Se percorrer estas perguntas e reflexões
verá muito mais claro no meio da multidão de marcas e modelos que
a publicidade vende como únicos, mas que na realidade são muito
semelhantes. Reitero o conselho de ler testes on-line e revistas técnicas.
São uma óptima fonte de aprendizagem e de informação
e representam uma pequena despesa no preço final de uma máquina.
Para terminar, quero recordar um velho conselho, sempre actual: o mais
importante para tirar boas fotografias é o que está à frente
e atrás da máquina, não o que está dentro dela. Se
um seu amigo com uma óptima máquina tirar fotos muito melhores do
que as suas, não lhe inveje a máquina. Peça-lhe para trocar
de máquina e logo constatará que as fotos dele não pioraram.
Há quem tire belas fotografias com caixas de sapatos - a esta técnica
chama-se pin-hole. Escolha bem os seus temas, procure melhorar a
sua sensibilidade e técnica fotográficas, tome consciência
da mensagem ou dos sentimentos que quer transmitir e as suas fotos melhorarão.
| ReferênciasPor
omissão, as referências indicadas estão em inglês. | | |