| Este tema tem traços
comuns com o tema tratado nas notas
sobre web design a que chamei a Persistência
da Memória na Web. |  | Paleofotografia:
as fotos de hoje vistas no futuroO número
de fotografias registadas cresce constantemente. Quantas delas serão acessíveis
daqui a cinquenta ou cem anos? Como são arquivadas? Por quem ? Nesta
nota, começo por rever brevemente a evolução do mercado das
fotografias para amadores, para me concentrar a seguir na perenidade do acesso
às fotografias digitais de hoje: - A
multiplicação das fotografias
- A
economia da fotografia digital
- Ver as fotografias
- Guardar
as fotografias
- Os arquivistas
- Paleofotografia:
antevisão de uma nova arqueologia
- Conclusões
|
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia digital
- Ver
as fotografias
- Guardar as fotografias
- Os
arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
| 1.
A multiplicação das fotografiasEstou seguro que o número
de fotografias tiradas em todo o mundo está em crescimento constante e
que o ritmo de crescimento aumentou substancialmente com as máquinas digitais
que tornam o custo marginal das fotografias quase nulo. Sendo eu uma amostra
de dimensão mínima, tiro mais de 1000 fotografias digitais por mês,
ou seja, o equivalente a 1 rolo de 36 fotografias por dia. Quando usava máquinas
fotográficas de filme tirava menos de cinco rolos de 36 exposições
por mês, e usava sobretudo diapositivos montados em casa, reduzindo assim
a despesa. Numa frase: multipliquei por seis o número de fotografias
registadas. E se a maior parte dos amadores tira muito menos fotografias
do que eu, não me surpreenderia se a rezão entre fotografias digitais
e fotografias em filme fosse semelhante ou até superior. Há
um período inicial em que muitos utilizadores usam a máquina digital
como usavam a máquina de filme (também chamada "analógica").
Há até quem mande imprimir o cartão todo, como se se tratasse
de um rolo de filme. Todavia, e à medida que as máquinas se tornam
mais acessíveis e fáceis de usar, os utilizadores aprendem a só
imprimir as fotografias melhores. O passo seguinte é multiplicar o número
de fotografias para depois poder escolher a "melhor fotografia" de cada
tema. Daqui resulta a multiplicação das fotografias. E o que
acontece às fotografias? As melhores são impressas, as outras são
guardadas em computadores, gravadas em CD-R ou DVD-R, ou simplesmente apagadas
dos cartões de memória. |
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia digital
- Ver
as fotografias
- Guardar as fotografias
- Os
arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
| 2.
A economia da fotografia digitalQuando os utilizadores mudam do paradigma
do filme para o paradigma do cartão de memória, há uma revolução
no mercado da fotografia: - Com máquinas de filme, os fabricantes
de equipamento vendiam pouco equipamento, tipicamente, caro e duradouro. A grande
facturação estava nos serviços de revelação
e impressão, popularizados em minilabs quase automáticos
que revelavam milhões de fotografias em todo o mundo.
- Com máquinas
digitais, os fabricantes procuram vender muito equipamento, inicialmente caro
mas progressivamente mais barato e com ciclos de vida curtos. Facturam assim muito
mais, em prejuízo dos serviços de revelação e impressão.
Em
1999, quando a fotografia digital se tornou comum nas sociedades desenvolvidas
(entenda-se os países da OCDE, por exemplo),
a revelação e impressão de cópias de negativos que
se obtinha uma hora depois de deixar o rolo na loja, era muito mais barata e rápida
do que a impressão de fotografias digitais. Neste caso, era preciso levar
as imagens num suporte especial - na altura os gravadores de CD-R eram raros -
aguardar o envio para um laboratório industrial para processamento e o
trabalho estaria disponível vários dias depois. Ao mesmo
tempo, surgiam impressoras a cores com bastante qualidade e baratas que entusiasmaram
milhões de amadores a montarem um laboratório doméstico,
reduzindo o custo marginal das fotografias apenas aos consumíveis de impressão.
Cedo descobriram que esse custo é elevado e que as fotografias raramente
ficavam tão boas como as dos minilabs. A reacção dos
fabricantes de impressoras foi melhorar a qualidade e o preço de máquinas
e consumíveis, procurando baixar os preços. Hoje, é possível
comprar uma impressora de jacto de tinta com qualidade dita fotográfica
pelo preço de dois tinteiros e 50 folhas de papel fotográfico 10x15cm
(4x6in), ou seja, cerca de EUR200 (USD240). Simultaneamente, os fabricantes
de minilabs não quiseram assistir à extinção
do seu negócio e logo perceberam que teriam de incluir nos seus serviços
as tecnologias digitais. Em consequência, um minilab actual trata
indistintamente um rolo de filme em formato 35mm como os vários formatos
de cartões de memória. No coração da máquina
está um sistema de impressão digital de alta qualidade e usa-se
um digitalizador para ler o filme de 35mm. Hoje, em Portugal, as cópias
digitais de um minilab são normalmente mais caras do que as cópias
analógicas, mas a diferença já é mínima (menos
de 10%) e até há laboratórios que já não processam
filmes. Aparentemente, o mercado regressou ao ponto de equilíbrio
anterior. Contudo, não é exactamente assim: - Os fabricantes
de equipamento de fotografia estão a vender muito mais em volume de máquinas
e valor.
- Os laboratórios de impressão sentem que o negócio
não acompanha a vivacidade do mercado e a queda de facturação
só não é mais brusca porque a passagem do filme ao digital
é gradual.
- Nasceu um novo mercado na impressão doméstica
e de escritório. Não consigo ainda perceber qual será o ponto
de equilíbrio entre a impressão doméstica (e no escritório)
e a impressão nos minilabs.
Fazendo o balanço
destas mudanças há muitos ganhos a registar: - A
fotografia está mais divulgada e ao alcance de mais pessoas,
- É
possível partilhar fotografias de múltiplas formas, do correio electrónico
ao écran da televisão, e até por papel como antigamente,
- É
possível guardar fotografias em múltiplos suportes electrónicos:
discos rígidos, CD-R, DVD-R, cartões de memória, etc.,
- Há
uma poupança ecológica significativa no processamento de filmes,
uma indústria química bastante poluente.
e algumas perdas:
- Dentro de alguns anos, a sucata fotográfica será um problema
análogo ao que é hoje a sucata de computador,
- Há
uma grande maioria de fotografias que só pode ser vista com equipamento
electrónico.
|
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia
digital
- Ver as fotografias
- Guardar
as fotografias
- Os arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
| 3.
Ver as fotografiasNo contexto da fotografia digital, as formas de ver
fotografia diversificam-se. Enquanto os vendedores de serviços e equipamentos
de impressão procuram promover o acesso às fotografias em papel,
os "electrónicos" procuram promover as imagens na Internet, na
televisão, no telemóvel ou em projecção na parede. Note-se
que é possível converter fotografias em filme para fotografias digitais
mas o processo inverso está (muito) restrito a usos profissionais. Quais
as vantagens e inconvenientes de ver as fotografias em papel ou em formato electrónico?
A tabela abaixo resume o cenário à disposição dos
utilizadores amadores: minilabs, impressão doméstica e fotografia
electrónica.
| Fotografia em papel | Fotografia electrónica |
| Vantagens | Vantagens |
- Bastam os olhos para ver
as imagens,
- O papel é um suporte universal,
- A impressão
tem um nível de qualidade e resistência elevados.
|
- As imagens podem ser visualizadas em diversos tamanhos e formatos,
- As
imagens podem ser facilmente ampliadas para destacar pormenores,
- As imagens
podem ser transmitidas à distância,
- As imagens podem ser
duplicadas a custo ínfimo,
- As imagens não se alteram com
o tempo.
| | Inconvenientes | Inconvenientes |
- O custo de duplicação
é significativo,
- As imagens desvanecem lentamente.
comparando
as impressões domésticas com os minilabs, constata-se ainda
que: - O custo por cópia é mais elevado,
- As
tintas envelhecem mais depressa,
- O papel é menos resistente.
|
- É necessário um dispositivo electrónico para ver as imagens,
- Os
dispositivos para ver as imagens podem diferir nas várias regiões
do mundo, dificultando o acesso,
- O autor perde o controlo do número
de cópias,
- Perde-se muito tempo a ver fotografias insignificantes.
|
Em resultado da multiplicação de fotografias e da facilidade
de duplicação e transmissão, as imagens da fotografia digital
têm muito menos valor do que tinham as fotografias em filme. Para
ilustrar um produto, uma pessoa ou um acontecimento, os autores seleccionavam
cuidadosamente e mandavam produzir uma ou duas fotografias. Hoje, por qualquer
motivo, se transmitem 10 ou 20 fotografias por correio electrónico (e-mail),
com escassa selecção e muito semelhantes entre si, acrescentando
cada uma delas pouco valor em relação ao conjunto de todas as fotografias.
Quando o espectador tinha uma só foto em papel para ver, detinha-se
sobre ela, mudava de ângulo e de distância de observação
e esquadrinhava os pormenores. Hoje, como tem uma longa lista de imagens electrónicas
para ver, percorre-as quase sem olhar, buscando sempre que a seguinte lhe diga
algo mais. Em consequência, ver fotografias digitais tornou-se uma
tarefa mais morosa e, frequentemente, menos valorizada e menos gratificante. Usando
os princípios económicos que combinam escassez e alto custo com
valor e abundância e baixo custo com insignificância, os autores
e espectadores continuam a valorizar e preferir as fotografias em papel, em especial
as grandes ampliações. Em resposta a este conservadorismo,
os "electrónicos" procuram imitar as amplições
em papel, propondo até cruzamentos de paradigmas como uma moldura com um
écran onde se apresentam fotografias que mudam periodicamente. |
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia
digital
- Ver as fotografias
- Guardar
as fotografias
- Os arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
| 4.
Guardar as fotografiasA conservação de fotografias abrange
o problema dos formatos de ficheiros e dos formatos físicos dos arquivos.
Uma análise dos vários formatos de ficheiro de imagem está
para lá do âmbtio desta nota, referindo-se apenas alguns aspectos
dos formatos mais populares, no contexto do armazenamento de longa duração.
Os formatos lógicos variam muito ao longo dos anos, até se
impôr a influência "normalizadora" da Internet; desde essa
altura, o JPEG impôs-se como o formato mais comum para armazenar fotografias,
e mesmo para as capturar nas máquinas digitais, apesar dos inconvenientes
resultantes do tipo de compressão com perdas usado. Outros formatos
foram surgindo para colmatar estas falhas: o PNG-Portable Network Graphics oferece
compressão com e sem perdas, o JPEG2000 oferece melhores algoritmos de
compressão. Todavia, continuam a ter uma popularidade limitada por várias
razões, indicadas por ordem decrescente de importãncia :
- A maioria dos utilizadores não sente a necessidade de mudar de formato,
e não associam as imperfeições da imagem ao formato do ficheiro.
- A
maioria dos utilizadores que grava em JPEG estará satisfeita com a qualidade
das imagens e normalmente nem usa o menor grau de compressão que permitiria
melhorar a qualidade das imagens em prejuízo do número de imagens
que cabem num cartão de memória.
- O alargamento da Internet
e da fotografia digital a públicos com menores conhecimentos informáticos,
leva a que a maioria das imagens não seja processada, sendo utilizada em
bruto.
- Em consequência, os fabricantes de máquina preferem
armazenar imagens nos formatos mais acessíveis aos utilizadores.
- Os
programas de processamento de imagem prolongam a preponderância dos formatos
tradicionais.
Em suma, não se adoptam os melhores formatos
(por exemplo, TIFF ou JPEG2000) mas sim os mais comuns. Enquanto a maioria das
máquinas não gravar as imagens nos melhores formatos, a sua relevância
será marginal. Se esta opção pode ser prejudicial à
qualidade das imagens arquivadas, tem vantagens na acessibilidade espacial e temporal
das imagens. Se os utilizadroes de diversas regiões da Terra usassem formatos
diferentes ou se os formatos de ficheiro mudassem com frequência seria inevitável
a perda de compatibilidade, aumentando a dificuldade de acesso a fotografias antigas
ou de outras regiões. Apesar de tudo, este risco é moderado,
pois a inclusão da capacidade de leitura em muitos formatos num programa
tem um custo diminuto. Já não é assim com a capacidade de
escrita pois há questões legais e comerciais em torno de alguns
formatos (um dos motores do PNG foram as questões suscitadas pelos direitos
do formato GIF). Uso imagens em computador há 16 anos e ainda só
perdi o acesso a algumas que foram criadas em formatos proprietários.
O armazenamento físico de imagens digitais pode ser feito em papel ou
numa variedade de formatos digitais. Não abordarei o problema do armazenamento
em papel por falta de competência, mas reconheço que ele existe e
é sobremaneira importante nas fotografias impressas em casa com impressoras
de jacto de tinta. O armazenamento em formato digital recorre a diversos
suportes que analisarei em seguida. CD-RO CD-R surgiu no mercado
em 1993 e é actualmente o modo mais comum de armazenamento e pode ser lido
por quase todos os leitores de CD informáticos e pela maioria dos leitores
de discos de entertenimento. A capacidade começou em 0,65GB (GB=gigabyte)
e cresceu depois para 0,7GB. Alguns leitores mais antigos não conseguem
ler a capacidade adicional dos novos CD-R. Prevê-se longa vida para
o formato porque os sucessores mantém retrocompatibilidade dos leitores
e dos formatos de armazenamento. Todavia, também os discos de vinil pareciam
eternos e "desapareceram" 15 anos após o aparecimento do CD no
início da década de 1980. Baseia-se numa tecnologia óptica
que codifica a informação binária "queimando" os
elementos de uma camada plástica. Não pode ser apagado ou reescrito
- o que é vantajoso para armazenamento de longa duração.
Pode suceder que a camada não queimada se degrade com o uso ou com o envelhecimento
dos plásticos. A propósito do envelhecimento de CD-R, sugiro
o artigo "Ever decreasing circles" do jornal inglês
"The Independent". onde se refere um estudo estatístico de envelhecimento
em que várias marcas de CD-R, sobretudo as mais baratas, se tornam precocemente
ilegíveis - algumas apenas dois anos após a gravação. O
custo actual por gigabyte está em cerca de EUR 0,4 (USD 0.5), o que é
muito barato. Não obstante, há significativas variações
no preço e o utilizador deve prestar atenção à qualidade
dos CD-R. Não faz sentido confiar as suas memórias a um suporte
de má qualidade apenas para poupar algum dinheiro. O CD-RW é
uma evolução reescrevível do CD-R, baseado numa tecnologia
magneto-óptica. Não oferece nenhuma vantagem sobre o CD-R para armazenamento
duradouro, é mais caro e os dados correm maior risco de degradação.
DVD-RO DVD-R surgiu em 2002 e baseia-se no princípio de
funcionamento de um CD-R com uma capacidade aumentada. Traz ainda a novidade de
poder ter várias camadas e um feixe de laser que foca a diferentes distâncias
para ler as várias camadas. As capacidades ainda estão a aumentar
(por aumento do número de camadas) e actualmente um DVD-R de 4,7GB oferece
um custo de armazenamento entre EUR 0,5 e EUR 1 (USD 0.6 e USD 1.2). Sobre
os CD-R, o DVD-R tem a vantagem da maior capacidade de armazenamento num suporte
físico do mesmo tamanho, por um custo comparável. Hoje, um DVD-R
de 14 GB (seis camadas) oferece a capacidade de 20 CD-R e prevê-se que o
número de camadas continue a aumentar. Tem o inconveniente de haver
uma menor difusão dos leitores e de haver variantes nos protocolos de escrita,
o que poderá criar dificuldades de compatibilidade entre diversas regiôes
do mundo e entre épocas. Bancos de imagensOs discos rígidos
têm acompanhado o ritmo de crescimento da indústria e oferecem hoje
centenas de gigabytes ... (o primeiro PC que usei em 1998 não
tinha disco rígido mas apenas duas diskettes de 360Kb e os discos rígidos
da época tinham 20Mb) ... por um custo quase constante a
preços nominais (e por isso decrescente a preços reais). Por
isso, há quem opte por guardar as suas imagens em disco rígido,
num computador próprio ou num serviço dedicado a este fim: um banco
de imagens partilhado, acessível por Internet e que disponibiliza grande
quantidade de fotografias, sempre acessíveis e por preços competitivos. É
uma solução interessante, sobretudo para autores que pretendam vender
as suas fotografias on-line. Há no entanto que acautelar a solidez
e idoneidade dos serviços, que são particularmente voláteis
na Internet. E, por prudência, guardar um arquivo em casa :-) Tapes
e dispositivos magnéticosDurante anos os backups das organizações
eram realizados em fita magnética, com os inconvenientes da lentidão
do processo, o acesso sequencial (era necessário percorrer a fita desde
o princípio até ao ponto desejado), e as exigências de armazenamento:
protecção de luz, campos electromagnéticos, intervalos limitados
de humidade relativa e temperatura. Eram os dispositivos de armazenamento
por excelência, oferecendo gigabytes de capacidade ainda na década
de 1990. Com as tecnologias ópticas actuais tornaram-se obsoletos em velocidade
de acesso, capacidade, robustez e probabildade de falha. |
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia
digital
- Ver as fotografias
- Guardar
as fotografias
- Os arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
| 5.
Os arquivistasA missão da Biblioteca Nacional Portuguesa (www.bn.pt)
é armazenar, conservar e dar acesso a todas as publicações
editadas em Portugal, por mais modestas que sejam: jornais, monografias, livros,
revistas, etc., todos os editores de materiais impressos devem enviar cópias
para arquivo na Biblioteca Nacional. Se esta tarefa já era ciclópica
no final do séc. XX dado o número de publicações,
tornou-se impossível com a difusão dos conteúdos audiovisuais
e com a Internet. Mais do que quantidade de dados a guardar, a tarefa é
impossível por causa da multiplicação e dispersão
dos autores (com tão poucos meios como eu!) e da volatilidade dos conteúdos
na Internet (de que os blogs são um bom exemplo). Está
portanto excluído o arquivo central de todos os conteúdos. Quem
serão então os arquivistas e bibliotecários da era da Internet
? Em primeiro lugar, os autores e seus descendentes. É muito
barato e simples guardar imagens em formato digital, desde que se tenha o mínimo
de cuidado com o armazenamento e a com a conversão de formatos quando se
muda de suporte de armazenamento e de protocolo. Todavia, como a maioria dos utilizadores
não tem vocação de arquivista nem o tempo e devoção
necessários, limitar-se-á a empilhar CD-R ou DVD-R em gavetas ao
longo dos anos, do mesmo modo que no passado guardavam as fotografias em papel
numa caixa velha. Descobrir o contexto de uma fotografia anos depois dela ser
tirada é um exercício de memória ou de adivinhação.
Quando um fotógrafo morrer, os seus descendentes perderão todo esse
conhecimento tácito e de arquivo informal. Um bom arquivo exige mais
e os ficheiros de fotografias digitais fornecem soluções que facilitam
o arquivamento. Desde a origem que as fotografias incluem a data e um conjunto
de dados técnicos (os dados EXIF). Há casos em que podem incluir
as coordenadas onde a fotografia foi tirada, adquirida por GPS. Outras máquinas
permitem ainda associar uma nota de voz às fotografias. Além
disso, os formatos actuais (creio que todos sem excepção) permitem
guardar um pequeno texto descritivo - tal como antigamente se escrevia no dorso
das fotografias - sem alterar o conteúdo da fotografia ou dos dados EXIF.
Outra alternativa é organizar o arquivo por pastas e incluir uma descrição
de cada pasta num ficheiro de texto separado. Por isso, um arquivo satisfatório
está ao alcance do amador. Os segundos arquivistas são os
bancos de imagens. Há-os públicos e privados, gratuitos e pagos,
abertos e restritos. Sendo iniciativas recentes, não têm ainda
um grande peso de arquivo morto. Com o correr dos anos, contudo, o crescimento
da base de dados realçará a necessidade de rentabilização,
obrigando a uma gestão mais exigente do acervo fotográfico que já
não desperta interesse. Poderão disponibilizar comercialmente arquivos
pessoais para os rentabilizar, obrigar os utilizadores a pagar pelo espaço
se não gerarem receita suficiente (medida em compras de cópias ou
anúncios vistos) ou poderão simplesmente apagá-los. Os
terceiros arquivistas por necessidade são as empresas e demais organizações
de índole profissional. Como têm a noção do
valor da informação e como o custo de manutenção é
baixo, sentir-se-ão levadas a arquivar quase tudo, quase para sempre. Afinal,
o custo marginal dos arquivos de fotografias é insignificante nos custos
operacionais e nunca se sabe quando uma fotografia pode vir a ser útil.
Na maioria dos casos não investirão no arquivo mas mantê-lo-ão
num limiar mínimo de acessibilidade. Um caso especial de arquivo
profissional é o do fotógrafo profissional ou a agência de
fotografia: quando a empresa tem como negócio a venda de fotografias procura
optimizar o arquivo do seu activo mais precioso. Finalmente, surgem os arquivistas
por excelência: os museus e colecções de fotografia. Seleccionam
os melhores e as melhores obras de cada autor, por isso dificilmente farão
um arquivo sistemático de um autor, quanto mais de um amador anónimo.
Em contrapartida, os arquivos são perfeitamente organizados e as obras
são contextualizadas e comentadas. Um óptimo exemplo destas colecções
na Internet é dado por este arquivo de Ansel Adams onde
se podem apreciar belíssimas paisagens americanas. Esta forma de
arquivo está reservada aos fotógrafos mais reconhecidos pelos seus
concidadãos, que se dispõem a custear o arquivo das obras mais relevantes
para benefício das gerações futuras. RedundânciaSendo
as obras de arte digitais infinitamente multiplicáveis, é possível
e interessante criar arquivos redundantes. Por isso, não hesite em guardar
as suas fotografias mesmo que as arquive num banco de imagens. Se algum
dos arquivos se perder, terá sempre o consolo de recuperar a informação
mesmo que esteja ligeiramente alterada pelas características do arquivo. E
já agora, guarde uma cópia em papel das fotografias que mais gosta
para o caso de não dispôr de ferramentas electrónicas de acesso
às fotografias. Verificação e manutenção
do arquivoAlém de construir um arquivo é importante mantê-lo:
verificar se os CD-R continuam legivéis, se as ligações (links)
nos bancos de imagem continuam acessíveis e correctas, etc.. É
boa ideia duplicar os CD-R de 10 em 10 anos para garantir o acesso sem erros (e,
se puder, guarde os antigos para melhorar a redundância). É indispensável
assegurar a compatibilidade de formatos de hardware. O primeiro salto geracional
após os CD-R ocorre agora com os DVD-R, embora os fabricantes garantam
a retro-compatibilidade dos leitores de DVD com os CD-R. É uma boa altura
para fazer uma cópia dos seus CD-R, não acha? Um DVD-R de 4.7GB
tem uma capacidade próxima de 7 CD-R. E já agora, guarde os dois
arquivos em casas diferentes, não vá uma catástrofe estragar-lhe
o arquivo. |
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia
digital
- Ver as fotografias
- Guardar
as fotografias
- Os arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
| 6.
Paleofotografia: antevisão de uma nova arqueologiaA civilização
egípcia caracterizou-se por uma forte actividade de escrita e armazenamento
de informação. Ainda hoje a imagem do escriba acocorado com o seu
papiro sobre os joelhos, as paredes cobertas de hieroglifos e a Grande Biblioteca
de Alexandria são símbolos de uma cultura que prezava o registo
e a conservação do saber. A maioria dos "papéis"
dizia respeito a actividades burocráticas relacionadas com a agricultura
e a gestão centralizada de um reino que se estendia ao longo do rio Nilo.
Quando os arquólogos encontram um desses papiros ficam entusiasmados
e destacam o valor da descoberta, apesar de ser, quase sempre, uma informação
banal sobre o quotidiano egípcio. Se em vez de descobrirem dez por ano,
descobrissem mil por ano, o valor acrescentado de cada um deles seria muito menor,
porque repetiriam informações muito semelhantes. Do mesmo
modo, quando as pessoas dos séculos futuros quiserem conhecer a nossa vida
terão de recorrer a uma nova especialidade: a paleofotografia. Os paleofotógrafos
estarão encarregues de conseguir ler os nossos arquivos electrónicos
(discos rígidos, CD-R, DVD-R, etc.), interpretar os formatos de
codificação de imagem, e assim abrirem uma janela para os longínquos
séculos XX e XXI. Serão porventura tão raros como são
hoje os especialistas em hieroglifos ou em escrita de iluminuras medievais. Uma
vez decifradas as fotografias, as pessoas dos séculos futuros ficarão
encantadas por descobrirem o que nos interessava: bebés, animais e pôr-do-sol,
recordações de festas, grupos de amigos em viagem e outras cenas
pueris. Aos milhões não valem nada, às centenas valerão
muito! Para que tal seja possível, devemos empenhar-nos hoje no seu
arquivo, pelo menos tanto quanto os nossos antepassados egípcios,
para que se saiba como era a Terra na época em que se inventou a máquina
fotográfica... |
- Multiplicação
de fotografias
- Economia da fotografia
digital
- Ver as fotografias
- Guardar
as fotografias
- Os arquivistas
- Paleofotografia
- Conclusões
|
7. ConclusõesAs fotografias custam e valem cada vez menos. Para
recuperar o valor da fotografia, os autores devem aproveitar a oportunidade de
capturarem muito mais fotografias não para as divulgar todas, mas para
apurar a sua técnica e seleccionar aquela fotografia que melhor exprime
a mensagem a comunicar. O arquivo das fotografias é a garantia de
memória para o futuro. O arquivo digital oferece vantagens mas também
muitos riscos e ao longo dos séculos perder-se-á a maioria das imagens.
Devemos armazenar muito para que as gerações vindouras tenham acesso
a algumas imagens - esperemos que as mais significativas. Arquivar não
corresponde a tratar todas as fotografias por igual. À hierarquia da qualidade
deve corresponder a hierarquia do arquivo; e deve-se tirar partido da reprodutibilidade
das fotografias para criar redundância no arquivo. Referências
- Ever
decreasing circles, The Independent
- Artigo sobre o envelhecimento
de CD-R, Abril 2004.
- Paisagens
de Ansel Adams
- Um vasto conjunto de fotografias disponibilizadas gratuitamente
pelos Estados Unidos da América a todos os seus cidadãos, e que
os estrangeiros podem apreciar.
-
| | Quer
comentar? | Anterior:
Qual a máquina fotográfica digital
que devo escolher ? Seguinte: Notas
sobre fotografias digitais subaquáticas | | ©2004
João Gomes Mota | | |